“A história do mundo é, essencialmente, história de ideias”. (George Wells Herbert)
8° Dia. Há anos reservo as manhãs de sábado para um passeio dedicado exclusivamente à cultura. Não existe lugar no mundo melhor que a nossa querida Paulicéia para isso. Vou de moto ou de fusquinha. Um possante 1300 cc ano 69, que eu levei um ano restaurando e agora parece recém saído da fábrica. Levo sempre uma mochila equipada com uma máquina fotográfica, um lápis e um bloco de anotações.
Saio sem destino definido. Bebo com prazer cada quilômetro da marginal para enfim acessar um viaduto qualquer e me entranhar numa das agitadas avenidas de São Paulo. Faço isso com a certeza de que o meu fusquinha acabará invariavelmente esbarrando numa feira de antiguidades, num museu, livraria ou se eu tiver sorte, numa roda de chorinho formada por jovens músicos com mais de 70 anos. Tudo é possível.
Um dos meus destinos favoritos é o Sebo do Messias, que fica atrás da Catedral da Sé. Sei duns vinte sebos, mas o do Messias é diferenciado. Super organizado ele tem um acervo variado e é sempre possível encontrar um “achado” por precinho camarada.
Pois bem, numa dessas gloriosas manhãs de sábado, eis que estou botando abaixo as estantes do Sebo do Messias e me deparo com um livrinho sem título, de aparência bastante antiga. Na verdade um caderno daqueles de capa dura que não se fabricam mais. Nada que chamasse a atenção. Por sorte esse pequeno caderno estava do lado de um Leminski, um dos meus autores favoritos e paranaense como eu. Não fosse isso nem o teria notado.
O vendedor não conseguiu descobrir o preço e o gerente afirmou que na verdade esse livrinho não estava catalogado e, portanto, não estava a venda. Ele havia chegado junto com um lote de livros recém adquirido e voltaria pro acervo para ser analisado. Disse isso provavelmente porque notou o meu grande interesse em comprá-lo. Acabei pagando R$ 30,00.
Mas, a grande surpresa aconteceu ao folheá-lo. Tratava-se de um caderno de dedicatórias que havia pertencido à Sarah Ribeiro, carinhosamente apelidada de Sarita pelas amigas no livro. Não sei quem foi, nem nunca ouvi falar dessa Sarah, mas desde esse dia estou especialmente curioso para descobrir tudo que for possível sobre essa senhora.
A primeira dedicatória do livrinho é de 5 de agosto de 1938, perto do início da 2ª Guerra Mundial, portanto. Foi escrita na contracapa e assinada por Marilena Cecília, que afinal foi quem presenteou Sarah com o livrinho. A última é assinada por Lourdes Barbosa em 8 de Novembro de 1949.
Durante uma década, a Sra. Sarah pediu as suas colegas de colégio que deixassem registrado uma poesia, um conselho ou uma lembrança qualquer no livrinho. São 40 páginas cuidadosamente decoradas com desenhos a lápis de cor ou com colagens. Retratos de um tempo de amizades inocentes que com certeza não existe mais.
Aracis, Emilias, Raphaelas, Sofias, Nécias, Josephas e outras dezenas de nomes vão aparecendo em cada página e no final tudo que foi escrito compõe uma obra única, registro de uma época emocionante e incrivelmente coerente. Eu me orgulho de ter dedicado um lugar especial na minha estante para esse livrinho. Temporariamente.
Digo que ele está temporariamente na minha estante, pois me considero um simples guardador com uma missão bem clara.
Não vou sossegar até encontrar ao menos uma das pessoas que fizeram parte dessa história e devolver esse livro. A ideia é usar da internet para localizá-las. Conto com a ajuda dos amigos visitantes. Veja se você conhece algum dos nomes dessa lista (apenas os que assinaram nome e sobrenome e a data da dedicatória):
Nécia Maria Machado, 7 de outubro de 1941. Maria Lucia Fleury Silveira, 10 de outubro de 1941. Kaoru Hosoe, 10 de outubro de 1941. Jarrey Ramos, 13 de outubro de 1941. Josepha M. Santos, 25 de outubro de 1941. Beatriz Rodrigues Lessa, 6 de novembro de 1941. Carmem S. Aleixo, 7 de novembro de 1941. Wilma Gurgel Viana, 8 de novembro de 1941. Maria Luiza Gaeta, 12 de novembro de 1941. Flora F. Lima, 28 de Agosto de 1942. Maria de Lourdes F. Oliveira, 7 de Outubro de 1942. Zelia Marcondes Machado, dezembro de 1942. Myriam Carvalho dos Santos. Yolanda Campos, 3 de Setembro de 1943. Therezinha Lima, 7 de novembro de 1943. Niobe Wey, 9 de novembro de 1943. Normir Della Casa Paula, 14 de novembro de 1943. Lourdes Barbosa, 8 de novembro de 1949. E na última página, o irmão da Sra. Sarah, Izidoro, 27 de setembro de 1940.




Não conheço qualquer das pessoas citadas, mas gostei muito da história e vou postá-la nas redes sociais que participo. Isso pode ajudar!
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