16/09/2011

o mundo é um moinho... de babel


Por conta do meu trabalho acabei fazendo amigos mundo afora.
E, é claro, esses amigos já me fizeram passar por muitos perrengues, principalmente culinários. Jamais esquecerei do dia que em Jinan, na China, me obrigaram a comer um escorpião caramelado, servido no palito.
Ou passar por incidentes políticos. Quase fui preso em Angola só porque estava fotografando uma estrada. Fazia apenas três anos que a guerra civil havia terminado e fotografar paisagens era considerado espionagem.  Pelo menos pra aqueles policiais do interior de Angola. Acredite se quiser.
Paguei o maior mico do mundo em Moçambique, numa reunião com um ministro fã do Roberto Carlos, mas essa é uma outra história. Conto na próxima oportunidade.
É claro que nenhum desses apertos diminuiu a felicidade suprema que eu tive ao conquistar os amigos que conquistei nesses países
Ontem mesmo eu trocava mensagens pela internet com o meu chapa Kiven Ming, chinês de Jiangxi que acabou de se transferir para a Russia.
Enquanto nós nos atualizávamos sobre a família, o trabalho, o Brasil e a China, o Kiven ao mesmo tempo conversava pelo Skype com outro amigo em comum, o Gui, que se encontrava na Espanha.
Então a nossa conversa  funcionava mais ou menos assim: Eu digitava em português ou em inglês, o Kiven botava tudo no Google Tradutor e passava para o chinês e para o russo, já que um outro amigo dele de lá (Rússia) acompanhava tudo só por curiosidade. Depois o Kiven retransmitia ao Gui na Espanha que para entender melhor traduzia para o inglês ou espanhol. 
A certa altura da nossa conversa a coisa já estava ficando bem surrealista e tudo acabou se complicando ainda mais quando eu resolvi reproduzir uma frase genial, do não menos genial Tom Jobim. Ele que tinha casa nos EUA e também no Brasil certa vez declarou:
Morar em Nova Iorque é bom, mas é uma merda: Morar no Rio é uma merda, mas é bom”.
Eu transcrevi a frase no original, em português, então o Kiven teve que traduzir no Google, primeiro para o chinês:
纽约的生活是好的,但它吸:在里生活是废话,但它的好
O amigo russo que acompanhava a nossa conversa, é claro, não entendeu nada. Então o Kiven passou também para o Russo:
"В Нью-Йорке, жизнь хороша, но она сосала: жизнь в Рио-это нонсенс, но это хорошо"
Em seguida ele retransmitiu pro Gui na Espanha. Em inglês, para facilitar:
"In New York, life is good, but it sucked: A Life in Rio is a nonsense, but it is good"
O Gui recebeu e também deu uma “Googlada”  traduzindo para o espanhol para ver se melhorava, pois não estava entendo o sentido, ficou assim:
"En Nueva York la vida es buena, pero se chupo la vida en Río de Janeiro es una tontería, pero es bueno"
Isso é claro não melhorou em nada, então ele me devolveu a mensagem perguntando o que,  afinal de contas, eu queira dizer com isso:
"Em Nova York a vida é boa, mas se chupo a vida no Rio de Janeiro é um absurdo, mas é bom"
Não quero nem imaginar o que o amigo russo entendeu dessa nossa conversa.
Drasdóvia!

Um comentário:

  1. Será que os tradutores são realmente eficazes? Ou será, talvez, que a própria linguagem escrita e seus significados são insuficientes para traduzir pensamentos? Sei, sim, que essa ideia é fantástica e deve ser seguida, inclusive, pelo tradutor do "São Google" e outros aplicativos similares em seu desenvolvimento.

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